Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira

"...A constituição da soberania em D. Pedro portava
consigo uma concepção de ordem social, que
almejava evitar a revolta popular, arrefecer ou
minimizar os outros quereres sociais que se
confrontavam em meio à escolha por
D. Pedro, tal como se vê na extremada do
Maranhão, Pará, Pernambuco e Bahia
em que se temia, no limite, um levante de
negros/escravos, uma espécie de “haitinização” do país..." 
A adesão das Câmaras e a figura do imperador
Iara Lis Carvalho Souza - Revista Brasileira de História.

Dois relevantes episódios da história do Brasil, distantes apenas 10 meses um do outro (o primeiro em janeiro e o segundo em setembro de 1822) marcaram a emancipação brasileira do domínio lusitano, encerrando, por assim dizer, 322 anos de colonização portuguesa na América: o Dia do Fico e o Grito do Ipiranga.

A presença dos Bragança no Brasil, desde 1808, e a permanência do herdeiro do trono depois da volta de D.João VI para Lisboa, em 1821, refrearam um movimento separatista violento e desagregador como ocorreu no restante do continente. Com dois "gritos" (não imaginar berros), D. Pedro I concedeu ao Brasil a tão desejada autonomia sem os tormentos de uma guerra de independência prolongada e sangrenta, com um país provavelmente dividido em dezenas de republiquetas.

Por duas vezes consecutivas, o jovem imperador fora convocado pela Corte de Lisboa, para que retornasse a Portugal; por duas vezes D. Pedro negou-se a ir. A primeira vez, em 9 de janeiro de 1822 quando, na varanda do paço do Rio de Janeiro, acatou o manifesto contendo milhares de assinaturas que José Clemente Pereira (presidente do senado da câmara) apresentou-lhe, implorando para que ele não partisse. A segunda vez, no dia 7 de setembro do mesmo ano, ocasião em que o príncipe, às margens do riacho Ipiranga, como nos conat a história, respondeu ao apelo de um outro manifesto, agora colhido por José Bonifácio em toda a capitania de São Paulo, com oito mil nomes, suplicando ao imperador que rompesse definitivamente com a Metrópole. Duas difíceis decisões, dois "gritos", provavelmente insuflados pelas lojas maçônicas e por uma pequena parcela da população, fizeram do Brasil, um império independente de Portugal. Os dois acontecimentos foram imortalizados por Debret e por Pedro Américo.

No primeiro grito, D. Pedro disse "-não vou"; no segundo foi solidário ao país que se insurgia. Ao voltar de Santos para São Paulo, depois de seu périplo de mais de 600 quilômetros pelo interior, por onde cavalgara por 24 dias, refeito das emoções do riacho Ipiranga, desarreiando-se, inquieto, compôs o Hino da Independência. Ao adentrar a noite no camarote do teatro, não muito distante do Colégio dos Jesuítas, da platéia alvoroçada partiram os gritos "Independência ou Morte!" O varão dos Bragança, bom músico, dominando o fagote, o piano, a viola e o rabecão, com voz de tenor, venceu a disputa no grito.


Com a revolta anti-absolutista do Porto de 1820, o poder concentrara-se nas Cortes de Lisboa, instrumento dos liberais que, cansados dos excessos terroristas dos jacobinos franceses de 1793, preferiram permanecer obedientes a um regime com rei, leis e parlamento. Levaram oito meses tentando convencer D. João a retornar à Metrópole, o que aconteceu em 26 de abril de 1821, quando embarcou com seu séquito rumo a Portugal.

O cenário político do Brasil, na época, visto de quem se encontrava, principalmente, no centro-sul do país, era assustador. O Nordeste já se revoltara em 1817, a Bahia, seguida do Pará e do Maranhão, as principais províncias do Norte, que em extensão representavam um terço do país, já eram regimentos rebelados que não acatavam as ordens vindas do Rio de Janeiro. O Sul de certa forma sossegou, quando o coronel gaúcho Manoel Carneiro da Silva e Fontoura, em nome da unidade nacional, juntou-se "à vontade unânime dos povos do Rio de Janeiro, Minas e São Paulo", no apoio ao príncipe, no que ficouconhecido como " o dia do Fico".

Às margens do Brasil a situação não era muito diferente. Os vizinhos sul-americanos já haviam pego em armas há mais de dez anos, gerando caudilhos em cada rincão. No México, um general esquizofrênico (Iturbide) sufocara os revolucionários em 1821, proclamando-se imperador Augustin I.

No dia 7 de setembro de 1822, em uma viagem de volta de Santos para São Paulo, D. Pedro I proclama o seu segundo grito, o da Independência. A data é considerada como sendo a da emancipação do Brasil como nação, o dia da Independência do país. Ao contrário do que muitos imaginam, a Corte não aceitou a coisa pacificamente, sem esboçae reação. Durante algum tempo, as lutas em diversos pontos do território brasileiro contra tropas portuguesas que defendiam a continuidade da dominação de Portugal sobre o Brasil, ameaçaram a liberdade do país de decidir seu próprio destino. Essas lutas pela consolidação da Independência prolongaram-se do final de 1822 até a metade de 1823. Além do Rio de Janeiro, estenderam-se pelas províncias da Bahia (até julho de 1823), Pará (outubro de 1823), Maranhão, Piauí, Ceará (agosto de 1823) e Cisplatina ( região Sul do País).

A libertação de Salvador do domínio de tropas portuguesas foi longa e difícil. Na realidade, as lutas contra as forças portuguesas do Brigadeiro Madeira de Melo, a mais alta autoridade militar da Província, começaram a crescer desde 1821. Com a independência proclamada por Dom Pedro, os conflitos aumentaram.


A HISTÓRICA BATALHA DO 2 DE JULHO DE 1823

A história da batalha do 2 de Julho se inicia ainda em 1821, ano em que fora constituída a Junta Governativa (Junta Provisória do Estado da Bahia), resultantes da Assembléia Revolucionária que se reunia para administrar as Províncias de acordo com as Cortes de Lisboa, e o Brasil condecorado Reino Unido de Portugal. Até aí, no país, portugueses e brasileiros se encontravam “unidos”. Mas essa condição não duraria muito tempo. 

Logo D. João VI recebe um mandato para voltar a Portugal. É nesse momento que começa a luzir um interesse de separação da então ex - colônia de Portugal com o país colonizador. O Brasil não aceitaria ser “prisioneiro” de nação alguma.

Em 29 de Setembro de 1821 é feito um decreto onde se estabeleceriam decisões políticas para o Brasil, construídas pelas Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituinte da nação Portuguesa juntamente com o rei. A exemplo de algumas questões colocadas neste decreto estariam: o retorno ao antigo sistema monopolista da exportação dos produtos brasileiros aos portos de Lisboa, Porto e Viana e, o estabelecimento de Lisboa como único centro político e administrativo do Brasil. 

A insatisfação dos brasileiros aumentava em relação à sua condição perante a Portugal. Os Portos já haviam sido abertos para as nações vizinhas, em 28 de janeiro de 1808; logo o Brasil já exportava e importava independentemente do aval de Portugal para outras nações; o País acreditava em uma autonomia. 
Em 12 de novembro de 1821 houve um confronto entre o exército Português e o Nacional; a Praça da Piedade vira local de guerra e o ano de 1821 termina com muita tensão.

A 31 de Janeiro de 1822 é feita uma nova Junta Governativa, e em 15 de Fevereiro do mesmo ano, a tensão volta à cidade. É nomeado Governador das Armas do Exército Português o Tenente-Coronel Inácio Luiz Madeira de Melo, pela Carta Régia de 9 de dezembro de 1821. No mesmo dia 15, o então Brigadeiro toma o cargo frente ao governador das Armas interino, Manoel Pedro de Freitas Guimarães. O objetivo de Portugal com essa atitude era manter o império colonial português no Brasil com o reforço militar de Portugal.
A notícia deveria ter passado pela Câmara Municipal, pela Junta Governativa e até mesmo pelo interino, não sendo estes avisados, sendo obrigados a aceitar as decisões vindas de Portugal.



Proprietários de escravos, terras, engenhos e arraiais de gado, reclamavam dos juros de agiotagem português; a Bahia hospedava tropas do exército português superiores em números de oficiais - além de soldados, armas, e munições - aos oficiais brasileiros que viviam relegados nos regimentos.

Foi dessa maneira que a Bahia recebeu a notícia da nomeação do tenente-coronel Madeira de Melo 
O governo da Bahia atendia a uma subordinação da então Junta de Governo Provisório às Cortes, que defendia o ideal constitucionalista, que veio a tomar os brasileiros nesta luta pela independência. Entre aceitar uma monarquia absolutista ou outra constitucional, a segunda idéia era mais bem aceita pela maioria.
Começa novamente um clima de tensão na cidade, e o então governador português das armas ameaça reagir a qualquer movimentação subversiva suspeita, mesmo sem comunicação prévia à Junta. 

Em 19 e 20 de fevereiro de 1822, num novo confronto, ocorrem tiros no Forte de São Pedro, para onde correram as tropas portuguesas, vindas do Forte São Bento. As Mercês, a Praça da Piedade e o Campo da Pólvora viram campo de batalha, o exército português tenta invadir quartéis como Forte de São Pedro, que não é tomado e, o Convento da Lapa. Neste último episódio morreria a Sóror Joana Angélica, ao tentar impedir a entrada do exército, a 19 de fevereiro. Salvador é então tomada pelas forças comandadas por Madeira de Melo.

Chegam ao Brasil tropas de reforço para o exército Libertador, que haviam partido do Rio de Janeiro em 14 de Julho 1822, comandada pelo Capitão Rodrigo Antônio de Lamare. Os navios que comandava tinham bandeira portuguesa, o que deu condições para prosseguir após ludibriar navios portugueses que chegavam com reforços ao litoral da Bahia, conseguindo um desembarque a 25 de outubro do referido ano, por Maceió. 

As tropas partiram para Recife, com o objetivo de buscar mais contingente para o exército, indo em direção à Sergipe (São Cristóvão) e Inhambupe, onde ordena, por carta ao Coronel Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, que sejam reunidas todas a forças num sítio denominado Feira do Capuame, para entrada das tropas em Salvador. Quando isso aconteceu já havia sido proclamada a Independência do Brasil a 7 de Setembro de 1822. 
Depois de reunir todo o seu exército, o coronel Joaquim Pires de Carvalho passa o comando para o General francês Pedro Labatut. Começa assim a defesa e luta pela independência. 

Labatut organiza seu exército formado por oficiais de milícias e proprietários de terras e engenhos, brancos pobres, lavradores, plantadores de fumo e mandioca, crioulos livres (nascidos no Brasil, filhos de escravos africanos) escravos crioulos e escravos africanos doados pelos senhores de engenho, juntamente com os Voluntários do Pedrão, batalhão formado por vaqueiros sob o comando do Frei Maria do Sacramento Brayner. Este exército vinha tomando o interior, chegando cada vez mais perto de Salvador.

Madeira de Melo ainda tenta uma contrapartida, tentando fechar o cerco entre a Ilha de Itaparica e Barra do Paraguaçu, sendo aí impedido e combatido pela única mulher a se registrar no exército brasileiro, Maria Quitéria de Jesus, e seus companheiros do Batalhão dos Periquitos, comandado por José Antônio da silva Castro. 

O General Labatut foi deposto após uma conspiração de militares brasileiros. O comando das tropas libertadoras foi passado a Joaquim de Lima e Silva. Labatut é preso na Casa da Câmara e Cadeia de Maragogipe (Masmorra do Paço), por conta de desentendimentos com a aristocracia ao montar um batalhão de escravos dando condições aos mesmo de fugirem.


“Aparentemente, o general confiscara e recrutara à força os escravos de alguns senhores portugueses que estavam ausentes, principalmente a família Teixeira Barbosa, e em decorrência disso corriam boatos que qualquer escravo que se oferecesse voluntariamente seria liberto.” 

Sob o comando de Lima e Silva, a partir de junho de 1823, com a ajuda da marinha, o mesmo fecha as portas de entrada de materiais de primeira necessidade à cidade de Salvador, então tomada pelos portugueses. 

Assim, com fortes ataques e passando necessidades, o Brigadeiro Madeira Melo faz um apelo à coroa, sendo finalmente derrotado no memorável 2 de Julho de 1823. Estava declarada a Independência do Brasil na Bahia. O Coronel Joaquim de Lima e Silva entra em Salvador triunfante junto aos seus combatentes, entre eles negros libertos e escravos. 


Casa da Moeda – VILA DA CACHOEIRA (07/06/1823 – 04/07/1823)

Como vimos, desde o início do ano de 1822 as relações entre a Colônia e Portugal vinham se deteriorando. A situação se agravou após o ato de proclamação da Independência, a 7 de setembro daquele ano. Na Bahia, as lutas armadas entre o partidos brasileiro e português eram frequentes. Como conseqüência, começou a grande retirada dos moradores da capital para a Vila da Cachoeira. 
A cidade de Salvador encontrava-se dominada pelas forças comandadas pelo Brigadeiro português Inácio Luiz Madeira de Melo que, mesmo após a declaração da Independência, permanecia à frente da força militar, ordenando a ocupação da cidade. 

A violência imperava na região, ocasionando a fuga da população. O centro das operações foi transferido para a Vila da Cachoeira, ali instalando-se o Conselho Interino de Governo. A luta pela consolidação da Independência do Brasil, na Bahia, somente terminou a 2 de Julho de 1823, cessando as atividades do Conselho, sendo constituído um Governo Provisório e retornando os serviços à Capital.

A importante decisão de instalar uma Casa da Moeda em outro local diferente daquele em que se encontrava na Capital da Província, foi comunicada a D. Pedro e solicitada sua aprovação. As instalações em Salvador estavam inutilizadas tendo seus oficiais e operários partido em fuga para o interior seguro. A Casa da Moeda passou então a funcionar em Vila da Cachoeira, no Convento do Carmo, tendo iniciado seus trabalhos em 7 de junho de 1823. No dia 4 de julho de 1823, poucos dias depois, encerrou suas atividades. Durante sua curta existência, cunhou apenas uma moeda de cobre, no valor de LXXX Réis.


Algumas batalhas ficaram na história, como a de Pirajá em 08 de Novembro de 1822, em que o exército brasileiro resiste aos ataques portugueses e são derrotados pelo general Labatut, homenageado com o Panteon, localizado no próprio bairro. 


BATALHA DE PIRAJÁ – 08 DE NOVEMBRO DE 1822

Pirajá constituía para a força brasileira ponto chave da defesa, por sua posição dominante. Por ela passava a tradicional estrada das Boiadas, ligando Salvador com o norte da Bahia . A posse de Pirajá representava, para os patriotas , o domínio da enseada de Itapagipe e, o corte da entrada de víveres e de gado para o abastecimento de Salvador .

Ciente da relevância de Pirajá, Madeira de Melo procurou controlá-lo. O seu plano de ação para 8 novembro de 1822, consistia em atacar o Exército Patriota em sua base de operações, Pirajá, dividindo-o em duas partes, destruir uma parte e obrigar o restante a retirar-se na direção do norte. Dessa forma ,esperava romper o cerco de Salvador e ter acesso ao sertão.

Ao amanhecer do dia 8, a Infantaria portuguesa desembarcou em Itacaranha e Plataforma, chefiada pelo Coronel João de Gouveia Osório, comandante da Legião Constitucional Lusitana. Ao mesmo tempo outras tropas atacaram Cabrito, ameaçando a retaguarda brasileira. Para lá acorreram reforços. Os nossos bravos, apoiados no Coqueiro, Bate-Folha e em São Caetano, resistiram. Dirigiu o combate o Tenente - Ajudante Alexandre de Argollo Ferrão.
Nas encostas de Pirajá, a luta assumiu grandes proporções. Segundo o Barão do Rio Branco, “o comandante da posição, Tenente - Coronel José de Barros Falcão, que trouxera ajuda de Pernambuco, possuía cerca de 1.300 homens, assim distribuídos: Batalhão de Pernambuco; Batalhão de Milicianos do Rio de Janeiro; Legião de Caçadores da Bahia; Corpo Henrique Dias; uma companhia do 1º Regimento de Infantaria da Bahia . Comandantes respectivos : Major José da Silva Santiago, Capitão Guilherme José Lisboa, Tenente Alexandre de Argollo Ferrão, Major Manuel Gomes da Silva, Alferes Francisco de Faria Dutra, e uma bateria de Artilharia do Rio de reforço. 

O efetivo de Madeira de Mello englobava os 1º e 2º batalhões da Legião Constitucional, os 4º e 10º regimentos de Infantaria, e um contingente de Artilharia. Combateram 5 horas, sem um resultado decisivo. Depois, um violento ataque de Madeira de Melo quase rompeu a linha brasileira, ameaçada de ser dividida em duas partes. As colunas inimigas já progrediam sobre as alturas de Pirajá. Foi quando o Coronel Barros Falcão, para evitar o envolvimento ordenou a retirada. 

Contou Accioli, contemporâneo do episódio, que o corneteiro Luís Lopes, num rasgo de iniciativa, ao invés de obedecer, tocou, com toda a firmeza: “Cavalaria, avançar!” As tropas portuguesas vacilaram, surpresas e, em seguida, ouviram o segundo toque: “Cavalaria, degolar!” Hesitantes, os inimigos recuaram, enquanto os brasileiros, animados, avançavam, perseguindo-os a ponta de baionetas, levando-os de roldão até a praia onde embarcaram em desordem.. Na batalha de Pirajá, o nascente Exército Brasileiro conseguira firmar o seu valor, elevando o seu moral, ao derrotar forças experimentadas e mais bem equipadas.
Os portugueses renunciaram definitivamente à conquista das posições de Pirajá, conformando-se em manter Salvador em seu poder, reconhecendo o poder e o prestígio do Governo de Vila da Cachoeira. Os seus suprimentos se limitavam ao recebidos por mar, do apoio da esquadra inimiga.


PERSONAGENS:

BRIGADEIRO IGNÁCIO LUIZ MADEIRA DE MELO - Militar português, legitimo de Portugal, nascido em Chaves, no ano de 1775, Madeira de Melo tornou-se cadete do exército de Portugal em 1791, aos 16 anos. Fora alferes em 1797, e tenente-coronel pelo seu desempenho na batalha de 1814 e coronel em 1818. Dirigiu as tropas portuguesas nos combates da guerra de independência na Bahia de 1822 a 1823, nessa época condecorado a Brigadeiro. 


PIERRE LABATUT - Pierre Labatut, dito Pedro Labatut, (Cannes, 1768 - Salvador, 1849) foi um militar francês que combateu na Guerra da Independência dos Estados Unidos da América ao lado do Marquês de La Fayette e depois na Guerra de Independência do Brasil. Tendo servido na Europa, na Guerra Peninsular, esteve posteriormente na Colômbia, ao lado de Simon Bolívar, com quem não se entendeu bem. Foi para as Antilhas e depois para a Guiana Francesa. Veio para o Brasil, onde, no Rio de Janeiro, foi contratado e admitido ao serviço do Príncipe Regente D. Pedro a 3 de julho de 1822, no posto de brigadeiro, em razão da carência de oficiais de alta patente no exército recém organizado.


O CORNETEIRO LUÍS LOPES - Também atribuído ao folclore a existência do corneteiro português lutando pelas trincheiras baianas que, na decisiva Batalha de Pirajá, recebera a ordem de tocar a retirada e inverteu o toque para avançar cavalaria a degolar, apavorando os portugueses em franca vantagem e enchendo de inaudito ânimo as tropas brasileiras que venceram a batalha.


JOSÉ JOAQUIM DE LIMA E SILVA - Visconde de Magé, nascido em 24 de julho de 1788, foi um militar brasileiro. Por um breve período, em 1823, foi presidente da então Província da Bahia. Tomou parte nas lutas da Guerra da Independência do Brasil, como general do Exército Pacificador Brasileiro, na então Província da Bahia, onde lançou uma proclamação às tropas do general português Inácio Madeira de Melo.


JOANA ANGÉLICA DE JESUS - Heroína da Independência Nacional. Nascida em Salvador, Bahia, a primeira mártir a tombar no solo baiano e que sacrificou a própria vida na defesa da clausura do convento da Conceição da Lapa, na Bahia contra o exército português. 

De família tradicional, era filha de José Tavares de Almeida e de Catarina Maria da Silva. Aos 20 anos optou pela vida monástica (1782), ingressando no noviciado no Convento de Nossa Senhora da Conceição da Lapa, na capital baiana, tornando-se franciscana do ramo das Clarissas. 

Após o noviciado foi irmã, escrivã, vigária e abadessa do convento da Conceição. Com a revolta dos soldados brasileiros contra a nomeação, no início do ano, do brigadeiro lusitano Inácio Luís Madeira de Melo para comandante das armas da província (1822), soldados portugueses, sob o pretexto de haver patriotas escondidos no convento, derrubaram a porta a golpes de machado. 

Ocupava a direção do Convento, em fevereiro, quando à entrada da clausura, enfrentou os soldados lusitanos, que tinham vindo para Salvador desde o Dia do Fico. Teve o peito trespassado por baionetas. Esvaindo-se em sangue foi levada para um sofá de palhinha, que ainda pode ser visto nos dias de hoje, e faleceu pouco depois, tornando-se a primeira mártir da grande luta que continuaria, até a definitiva libertação da Bahia, no ano seguinte.


FREI JOSÉ MARIA DO SACRAMENTO BRAYNER - Pernambucano nascido na terra, no ano de 1778 , filho de português com uma pernambucana, Padre José Maria do Sacramento Brayner entrou para a vida religiosa ainda em Pernambuco, no Convento dos Carmelitas Calçados muito jovem. Em 1817, em meio a Revolução Pernambucana, aderiu ao movimento. Devido ao seu envolvimento em questões políticas, em 26 de maio de referido ano, após a derrota dos revolucionários, é preso e julgado. Foi levado a Salvador, chegando a cidade em junho do mesmo ano onde permaneceria preso por 4 anos, sendo um dos seus colegas de cárcere o Frei Caneca.

Após ter cumprido a pena, resolveu permanecer em Salvador. Em 12 de outubro de 1822, fez um requerimento ao Conselho Interino de Vila da Cachoeira e ofereceu seus serviços à Pátria estremecida. Formou então um grupo de guerrilha, que ficou conhecido como Voluntários do Pedrão formado por 40 pessoas, que lutou sob o seu comando pela independência.
Hoje esses 40 integrantes do Voluntários do Pedrão são representado na festa do 2 de Julho por 40 vaqueiros montados a cavalo. O grupo fazia parte do corpo do Exército Pacificador, que começara agir a partir de dezembro de 1822 até a vitória brasileira em julho de 1823, sob o comando de Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque.
Depois de lutar em prol da Independência, ocupou o lugar de Capelão da Relação Civil e foi agraciado com as comendas de Cristo e do Cruzeiro. Já em 1833, morando na Ilha de Itaparica, exatamente em 17 de Agosto, foi proclamado Juiz de Paz do 1º distrito daquela ilha, e vigário em 1835. 
A 16 de Novembro de 1850, aos 72 anos de idade, faleceu o então Rev. Sr. Vigário José Maria do Sacramento Brayner, sendo sepultado na Matriz do Santíssimo Sacramento de Itaparica.


CONSIDERAÇÕES

Num primeiro momento as forças pró-independência no Brasil tentaram a via insurrecional, com o fracassado levante autonomistas de 1817 no Nordeste ( que voltou a cena da política nacional com o movimento republicano-separatista da Confederação do Equador de 1824). O temor porém que ocorresse um super-Haiti ou uma longa e dolorosa guerra fratricida como estava ocorrendo nos outros países vizinhos, fez com que as oligarquias brasileiras refletissem em busca de uma outra solução, uma terceira via entre a terrível matança de brancos que a revolução dos escravos haitianos provocara e a guerra contra a metrópole espanhola. Daí a independência brasileira procurar navegar nas águas mais calmas da solução negociada e conciliatória. A saída encontrada, com o empenho especial de José Bonifácio, foi convencer o Príncipe Regente português D.Pedro de Alcântara a aceitar romper com as Cortes metropolitanas, ao mesmo tempo em que por aqui - seguindo o exemplo do General Iturbide do México (que proclamou-se imperador como Augustin I) -, entronavam-no como Imperado do Brasil, tornando-se D.Pedro I. Para evitar uma calamitosa rebelião das senzalas e por força do espirito iluminista a que aderira, José Bonifácio estudou a possibilidade de uma proibição progressiva do tráfico de escravos que demanda-se uns cinco ou seis anos, bem como apresentou à constituinte de 1823 um projeto que visava a abolição. Não conseguiu nenhum dos intentos.

Com a adoção vitoriosa dessa política de conciliação (entre os interesses de uma independência inevitável e uma dinastia que aqui garantiria os interesses de continuidade dos portugueses) liderada pelos irmãos Andrada:

1. Mantinha-se ainda um laço afetivo e dinástico com o Reino de Portugal, dando continuidade a soberania civil e a integridade territorial do ex-Império Colonial Português.

2. Contornava-se o caudilhismo que assolava o resto da América espanhola e, evitando a sucessão de tiranos militares, ou a intermitente guerra intra-caudilhista que infelicitava os países latino-americanos.

3. Impedia-se que uma guerra civil de longa duração contra a metrópole “contaminasse” as senzalas levando-as à rebelião sangrenta e vingativa.
A resistência maior a esse grande acordo, além de outros focos de intransigência, como ocorreu em Belém do Pará, deu-se por parte do General Madeira de Mello, o comandante português da Bahia, talvez a província mais rica do Brasil naquela época, que rebelou-se contra a solução negociada, negando-se a reconhecer a autoridade de D. Pedro I, bem como sua ordem para que regressasse à Portugal. Por isso, até hoje, os baiano celebram a data da independência num dia especial, o 2 de julho de 1823, quando as tropas portuguesas, cercadas pelo General Lima e Silva e pelo Almirante Cochrane, reembarcaram em Salvador de volta para a metrópole.