A "im"paridade do poder de compra em numismática

Medir o padrão de vida de um país usando apenas as flutuações das taxas de câmbio, em geral, revela-se ilusório. Se o valor do real brasileiro, por exemplo, cai em comparação com o dólar americano, o PIB do Brasil medido em dólares também cairá. Contudo essa variação da taxa de câmbio é apenas o resultado do comércio internacional e do mercado financeiro, o que não significa que os brasileiros ficaram efetivamente mais pobres, ou mais ricos, logicamente desde que os salários e os preços em reais permaneçam estáveis.

Em economia, a PPC (paridade do poder de compra) ou PPA (paridade do poder aquisitivo), é um método alternativo à taxa de câmbio para o cálculo comparativo do poder de compra de dois países. A PPC mede o quanto uma determinada moeda pode comprar em termos internacionais (normalmente, o dólar), já que bens e serviços têm diferentes preços de um país para outro, ou seja, a PPC relaciona o poder aquisitivo de uma pessoa com o custo de vida do seu país, mostrando se essa pessoa consegue comprar tudo que necessita com seu salário.

A PPC é necessária porque a mera comparação dos produtos internos brutos (PIB) em uma moeda comum não é capaz de descrever com precisão as diferenças em prosperidade material. A PPC, ao invés, leva em conta tanto as diferenças de rendimentos como também as diferenças no custo de vida. Os preços não flutuam num nível uniforme; na verdade, a diferença nos preços de alimentos, por exemplo, pode ser maior que a dos preços de habitação ou a dos gastos com entretenimento. Ademais, os padrões de compra, e até mesmo os bens disponíveis para compra, são diferentes de país para país. Portanto, uma cesta constante de bens não pode ser utilizada para comparar preços em diferentes países.

As diferenças entre a PPC e a taxa de câmbio real podem ser significativas. Por exemplo, o PIB per capita na República Popular da China é de cerca 5000 dólares, enquanto que com base na PPC, passa a 8400 dólares. Na outra ponta, o PIB per capita nominal do Japão é cerca de 37600 dólares, mas o valor em PPC é de apenas 31400 dólares.

Nota: A explicação técnica sobre a PPC vai além do objetivo deste artigo. Quem possuir um razoável conhecimento de matemática financeira e quiser se aprofundar, pode fazê-lo, clicando aqui.


As variações do câmbio no âmbito da numismática

Simplesmente converter o valor pago por uma moeda de coleção, adquirida em um país estrangeiro, usando apenas a taxa de câmbio, acreditando que essa conversão traduza o quanto ela possa valer no país de destino, é um erro crasso cometido por quem desconhece as leis que regem o mercado internacional. Isto porque não basta a simples conversão do preço baseada no PIB dos dois países. Outras variáveis, tão ou mais importantes, devem ser consideradas, a exemplo do poder de compra de um cidadão, em um e noutro país que podem ser muito diferentes.

É um equívoco achar que ao comprar um determinado objeto nos EUA, por exemplo, para saber quanto este vale no Brasil, usar meramente a taxa de câmbio. 

Exemplo: Digamos que hoje US$ 1,00 dólar valha, hipoteticamente, R$ 3,00 reais. Adquirir um determinado objeto nos EUA e simplesmente multiplicar seu valor por 3 (três), acreditando que isso seja o bastante para apreçar o objeto no Brasil e, partindo desse parâmetro, tentar vender esse objeto com lucro, pode revelar-se uma armadilha, o que vem acontecendo frequentemente no mercado numismático brasileiro.
Considerando ainda o hipotético câmbio de US$ 1,00 = R$ 3,00, pagar, por exemplo, US$ 30.000,00 dólares por uma moeda brasileira, nos EUA, com a intenção de revendê-la no Brasil, aplicando a conversão da moeda americana para o Real, avaliando o artigo em R$ 90.000,00, e ainda acrescentar um percentual a título de lucro, em geral, demonstra-se uma "lógica" desastrosa.

Por que ?

Simples! Porque o poder de compra do americano médio, nos EUA, é totalmente diverso do brasileiro que compra e paga por serviços em moeda brasileira, o Real.
Apesar desta lei variar de setor para setor, na numismática revela-se um tremendo equívoco valorar uma moeda em reais, usando a taxa de câmbio entre as duas moedas, americana e brasileira.

A grosso modo, quando um americano paga, nos EUA, U$ 30.000,00 por uma moeda, seria, mais ou menos, como se o brasileiro pagasse R$ 30.000,00 reais pela mesma moeda, mas no Brasil. Em palavras simples, o efeito do gasto de US$ 30.000,00, no bolso de um americano, tem o mesmo peso que R$ 30.000,00 no bolso de um brasileiro que ganha em reais.



Isso significa que, quando um cidadão americano gasta U$ 30.000,00 dólares nos EUA, a sensação experimentada é, mais ou menos, a mesma quando um brasileiro gasta R$ 30.000,00 reais no Brasil. Logicamente não estamos aqui tratando das especulações, de inflação e de outras variáveis que possam influenciar no preço das mercadorias, mesmo porque o assunto aqui são as moedas de coleção, um nicho de mercado. O que estamos tentando esclarecer aqui é que pagar por uma moeda, em dólares, nos EUA, acreditando estar fazendo um investimento de capital, é um erro crasso cometido por muitos, desatentos às nuances das leis que regem o preço das coisas a nível internacional.

Se o colecionador pagou, por exemplo, US$ 500.000,00 pela peça da coroação, mas fez isso com a filosofia de um colecionador, desejoso de possuir uma moeda rara do Brasil, mesmo que a compra se demonstre um péssimo investimento, é aceitável sob a ótica filosófica de quem se dedica como colecionador, à numismática. Por outro lado, desembolsar US$ 500.000,00 dólares na compra dessa raridade, acreditando que, no Brasil, ela valha R$ 1.500.000,00 (mantendo a hipotética taxa do câmbio), é um equívoco enorme. A coisa fica ainda pior se a intenção do investidor é obter retorno imediato do seu "investimento". A única hipótese de ganho (ou pelo menos de paridade no investimento) é a de que o câmbio entre a moeda americana e a brasileira se reduza  a "1 por 1". Destarte, o "investidor" poderá pensar em aplicar um percentual sobre esse valor, a título de lucro, trocar tudo por dólares, e torcer para que o câmbio, um dia, lhe seja favorável.


Em outras palavras: 

1. Quem pretende comprar uma moeda nos EUA ou na Europa, pagando por ela, em dólares ou euros, deve estar atento aos preços dos catálogos brasileiros, do contrário irá pagar por ela, muito mais do que realmente vale, obviamente estando no Brasil.

2. É sempre um bom negócio comprar moedas em reais e vendê-las em dólares. Contudo, comprar moedas em dólares, acreditando vendê-las com lucro, no Brasil, não é a mesma coisa.

3. Isso não significa que a moeda não valha o que foi pago por ela. Significa apenas que quem pagou, não atentou para determinadas leis que regem o preço das coisas enem para os valores impressos nos catálogso brasileiros. A moeda do exemplo inicial pode valer, sem dúvida alguma, US$ 30.000,00 nos EUA, mas dificilmente irá valer R$ 90.000,00 reais no Brasil (admitindo a mesma hipotética taxa de câmbio). Pode até ser que SIM, mas quem irá ditar o preço são os catálogos brasileiros e não o câmbio.

A "matemática" aqui é simples. Imaginemos, por exemplo, que um investidor tenha pago US$ 500.000,00 dólares americanos pela peça da coroação. Se esse investidor é americano e pretenda renegociar a moeda nos EUA ou na Europa, aplicando um ganho de 20% sobre o preço, talvez não encontre dificuldade de vendê-la a um investidor ou colecionador, que viva nos EUA ou na Europa. Por outro lado, aplicando a mesma taxa hipotética que estamos utilizando desde o início, converter o preço para reais, acreditando poder vender essa moeda no Brasil, por R$ 1.800.000,00, é mais do que um equívoco...na verdade é uma doce ilusão.