Alexandre III da Macedônia

Alexandre III (Ἀλέξανδρος Γ’ ὁ Μακεδών – Aléxandros trίtos ho Makedόn), também conhecido como Alexandre o Grande ou Alexandre Magno, Rei da Macedônia a partir de 336 a.C.

Muito de sua vida ainda encontra-se coberto de mistério; muitas de suas biografias (são inúmeros os autores), na verdade são obras de escritores com escasso conhecimento sobre o tema. Durante anos procurei comparar o que considero um estudo sério realizado por historiadores do passado, com as atuais publicações. Confrontando-as, consegui filtrar o que realmente pode ser levado a sério, daquilo que não deveria nem estar exposto à venda, por tratar-se de literatura ruim, muitas vezes desonesta.
Não pretendo escrever obra completa sobre assunto exaustivamente tratado por competentes historiadores. Seria por demais pretensioso (e por que não dizer, arrogante?) caso acreditasse poder inovar sobre o tema; e ingênuo demais por achar que poderia expor tudo nas páginas de um blog.
Todavia reconheço a necessidade de não ser pueril e superficial ao tratar de assunto de interesse geral e que tanta emoção e paixão desperta naqueles que, como eu, amam a história universal, os seus grandes personagens e, no nosso caso particular, a numismática.

Antes de iniciar, gostaria de salientar aos iniciantes, dizendo que o nosso hobby é antes de tudo uma paixão; requer paciência, sobriedade, dedicação e muitas horas de exaustivo estudo. Destarte, peço paciência a todos, já que irei escrever enquanto compilo minhas notas tentando resumir tudo que já escrevi a respeito do assunto. Não pretendo exaurir tema tão complexo em um único post, mesmo porque não carrego similar pretensão. Reconheço que seria humanamente impossível esmiuçá-lo à perfeição; nem mesmo o mais perfeccionista entre os perfeccionistas estaria capacitado a tal tarefa. Catalogar as incontáveis cunhagens e as numerosas Casas que cunharam “moedas de Alexandre”, mesmo “armado” do Muller e do Price, por si só, já seria uma tarefa tremenda.

Mas vamos ao que interessa! Tentarei ser o mais preciso e lógico na argumentação. Para tal – e não poderia deixar de ser (mesmo porque estaria sendo intelectualmente desonesto comigo mesmo) – não irei me furtar de escrever algo sobre a biografia do grande “condotiero”; pelo menos o que considero fundamental ao estudo da “moedagem” de Alexandre; e também para dar ao leitor algo que não trate somente das moedas, como acontece em alguns poucos catálogos especializados. Afinal, a biografia de Alexandre, por si só, já é obra que desperta um grande interesse do público, amplia nosso universo cultural e nos ajuda a entender o presente, investigando o passado.

Nesse ponto, antes de iniciar, gostaria de salientar que são sempre bem-vindas as críticas sinceras de outros autores e estudiosos do assunto, daquilo que escrevo. Acredito que esta seja a melhor forma de aprendizado: debater pontos de vista diversos, o que será um privilégio para mim, antecipo. Peço também que me dêem um “toque”, caso esteja me aprofundando demais na parte histórica ou ao esmiuçar os pormenores das moedas, me detendo mais do que o necessário, já que o assunto me desperta tanta paixão.


HISTORIOGRAFIA

Sobre Alexandre (Pella, 6 ecatombeone* 356 a.C. – Babilonia, 30 targelione* 323 a.C.), o Grande “Condotiero”, muito se tem escrito. São inúmeras as fontes literárias que mantém viva a memória do jovem e intrépido general, amado por muitos e odiado por tantos outros.

Dos clássicos gregos aos estudos sérios de Arriano, Plutarco, Diodoro, Quintus Curtius Rufus e Justino; das manipulações erroneamente atribuídas a Callistene (contemporâneo de Alexandre e historiador oficial da expedição na Pérsia) às inumeráveis reelaborações fantasiosas dos romancistas atuais, muita verdade, mas também muitas inverdades, foram ditas sobre o excepcional estrategista e conquistador.

O incauto leitor poderá ver-se “entrapolado” por literaturas pueris e tendenciosas sobre o grande macedônico; muitas delas, lendas que falam de sua ascensão ao céu, do fascínio real e romântico de um personagem homossexual (é necessário entender o contexto da época, antes de levantar hipóteses fantasiosas que possam nos transportar ao conceito atual de homossexualidade) e de suas campanhas, além de dar vazão à sua pretensiosa divindade.

As fontes citadas, e que podemos usar como referência à vida de Alexandre não são contemporâneas à sua época. São, contudo, o resultado de pesquisas e consultas feitas por antigos historiadores que se basearam em obras hoje perdidas. O que temos hoje, na verdade, é o eco de um eco; e se muito nos leva a crer que sucedeu desta ou daquela forma, temos motivos mais do que justificáveis para excluir também muitas obras, principalmente aquelas de romancistas desonestos com o público leitor.

Já admiti que não dispomos mais das obras de Callistene, de Ptolomeu Lágida, de Cristobulo, Nearco, Clitraco, Efippo e Onesicritus, o que dificulta bastante quem pretende empreender por essa estrada. Diante dos incontáveis estudos sobre a historiografia de Alexandre, espalhados por diversas livrarias e fontes na internet, aconselho muita cautela. Os mistérios que ainda envolvem sua vida e sua campanhas exigem uma bibliografia específica. Para aqueles que desejam se aprofundar no tema, recomendo iniciar pela página dedicada às fontes fidedignas disponíveis sobre este grande personagem. O leitor poderá encontrá-la, como uma entre tantas sugestões, nas páginas do Birkbeck College, da Universidade de Londres, no seguinte endereço: Clique aqui para ter acesso ao Birkbeck College…pesquisando ou entrando em contato com o College, através de seu endereço e-mail. De qualquer forma, me comprometo em postar extensa bibliografia ao final do trabalho.


A GRÉCIA E O REINO DA MACEDÔNIA

Tendo se livrado dos persas com as batalhas de Platéia(*1) e Mycale(*2) (479 a.C.), os gregos começaram uma longa série de conflitos pela hegemonia da região, sem jamais esquecerem o insulto, o ultraje que lhes foi imposto por Xerxes, e a perda das cidades gregas da Jônia.

A tentativa espartana de intrometer-se na disputa entre Ataxerxes e Ciro Menor em 400 a.C. se concluiu com a derrota de Ciro e com a retirada dos gregos e seus aliados sob o comando de Xenofonte que narrou o cansativo retorno das tropas em sua obra maior , a “Anabasi”. A sucessiva expedição de Agesilau II (306 a.C.) na Ásia Menor se concluiu somente dois anos mais tarde com o retorno ao Peloponeso, onde outras cidades se moviam contra Esparta, aproveitando-se da ausência do Rei.

As cidades gregas continuaram seu combate pela hegemonia do território, até o momento em que surge a figura de Filipe III, Rei dos Macedônios que propôs a idéia de um ataque à Pérsia.

*1. A batalha de Platéia de 20 de agosto de 479 a.C., com a morte do comandante em chefe persa Mardônio e a derrota imposta ao seu exército diante das tropas elênicas sob o comando de Pausânia, estabelece o fim das invasões persas na Grécia.
Precedentemente à essa batalha, a sorte do conflito foi marcada pela breve e espetacular resistência das forças do rei espartano Leônidas nas costas das Termópolis (11 de agosto de 480 a.C.) e no mar, por duas batalhas navais, a de Campo Artemísio (agosto de 480 a.C.) e sobretudo a batalha de Salamina (setembro de 480 a.C).

*2. A Batalha de Mycale, foi uma das duas grandes batalhas que puseram fim à invasão dos persas na Grécia. A batalha ocorreu em torno a 27 de agosto de 479 a.C. nas encostas do Monte Mycale, no território da Jônia, em frente à ilha de Samos. Esta batalha levou à destruição da maioria das forças persas na Jônia, bem como da sua frota no Mediterrâneo.
Essa, mais a batalha de Platéia, praticamente no mesmo dia, no continente grego, decretaram a derrota das forças dos persas, que foram obrigados a se retirar, colocando um fim definitivo ao domínio persa na região.
O conhecimento dessas duas batalhas, com todos os seus pormenores, chegaram a nós graças às narrativas do historiador grego Heródoto de Halicarnasso.
A coalizão grega reuniu um exército de cerca 110.000 homens, consistindo de 38.700 Hóplitas e 71.300 de infantaria leve, acrescidos de 1.800 homens de Téspias. Segundo o relato de Heródoto, os hoplitas tinham origem em diversas cidades-estado.
Moderna reconstrução de uma falange (*3). Os Hóplitas (*4), exceção feita àqueles espartanos, não formavam um grupo homogêneo. Cada soldado usava seus próprios ornamentos, decorando sua armadura com as suas próprias cores.

*3. A falange era uma antiga formação de combate, composta por infantaria pesada com soldados empunhando lanças, piques e escudos (ou armas semelhantes). A falange era típica do mundo grego e helenístico, mas também foi adotada por outros povos como os etruscos. Foi Filipe II, pai de Alexandre a introduzir as sarissas (lança muito longa, com até 7 metros de comprimento) em seu exército, criando as temidas “falanges macedônicas”

*4. Hóplita: Os gregos, ao contrário de muitas outras populações, possuíam exércitos de profissionais; exceção feita à Esparta, uma oligarquia governada por uma aristocracia militar. Cada polis, em momentos de necessidade, conclamava seus cidadãos às armas a fim de lutarem em defesa da pátria. O militar grego, na verdade, era um fazendeiro-soldado chamado hóplita, nome que derivava do potente escudo que carregavam, chamado Hóplon.

O Hóplon era um escudo circular com um diâmetro de cerca de 90 centímetros e três centímetros de espessura, construído em madeira e bronze e, em alguns casos, revestido de pele de animais selvagens. Em sua superfície convexa vinha desenhado um brasão muito complexo, quase sempre com motivos derivados da mitologia, tais como Górgonas, o golfinho, elmos, naves, um vaso ou um olho. Em outros casos, eram decorados com as iniciais da cidade de origem do guerreiro, tais como o Alfa ateniense ou o Lambda Espartano (o lambda refere-se ao nome original de Esparta, Lakedaimon). Essa proteção chegava a pesar oito quilos e era dotada de duas alças: a primeira foi uma pulseira onde se enfiava o braço esquerdo enquanto a segunda se colocava corre ao longo do perímetro, sendo envolta pelo punho cerrado.


O MUNDO DE ALEXANDRE

Dando continuidade à difícil tarefa de tentar passar ao leitor as informações relevantes às cunhagens de moedas na Grécia sob o comando do valoroso condottiero, acredito que nesse momento seja interessante a exibição de um vídeo elaborado pelo History Channel. 
Mais adiante tentarei postar um outro bem melhor, e que passa a dimensão exata de quem foi o macedônio. Se tiver sorte conseguirei fazer o upload de todo documentário que é bastante extenso. Caso não consiga, aconselho aos interessados que o adquiram (pode ser pela internet) ou façam o download nos links que irei indicar. Porém, prefiro baixar toda versão legendada, pois é bem melhor do que os DVDs dublados.
Por enquanto, assistam ao documentário do History Channel a seguir, dividido em 5 capítulos. É importante tentar "mergulhar" no mundo em que Alexandre viveu, pois isso dá uma dimensão mais clara de sua época, o que facilita o entendimento do que será dito durante a exposição do argumento. Compreender a época histórica, a política, as dificuldades de um período conturbado, onde moral e ética eram muito diferentes das que entendemos hoje, é fundamental para que o entendimento do assunto seja mais rico de informações e, por consequência, mais prazeroso.

A Grécia de Alexandre o Grande - Construindo um Império (The History Channel)













EM BUSCA DA GLÓRIA

Um dos debates relevantes sobre quem foi Alexandre o Grande, é realizado baseando-se em algumas questões fundamentais: 

1. Era Alexandre realmente um homem excepcional ou foram seus biógrafos e a "sorte" a criarem o mito? 

2. É todo seu o mérito dos feitos que lhe foram atribuídos, ou encontrou ele a estrada completamente aberta por seus admiradores e por todos aqueles que o apoiavam? 

Com relação a essas indagações formam-se duas correntes de pensamento: a dos entusiastas e dos detratores. Segundo Rostand foram os humildes personagens a criarem a fama de Alexandre.

Mas no fundo, o que importa se Alexandre III foi um indivíduo sobrehumano, um gênio da guerra, um deus encarnado (o novo Dionísio), um descendente de Hércules e de Aquiles, ou mesmo um louco visionário destruído pelos efeitos do alcool à idade de apenas 32 anos?

Figura: Reis da Macedônia – Alexandre III ‘o Grande’ – 336-323 a.C. AV Stater (8,60 gr). Casa da Moeda de Byblos. Cunhada por volta no período de 330-320 a.C. Cabeça de Athena voltada à direita, portando elmo Ático decorado com serpente, pingente e colar / AΛEΞANΔPOY, Nike* (deusa grega da vitória) em pé, segurando coroa de flores na mão direita estendida; Monograma AP no campo à esquerda.
Vale a pena recordar que quase a metade da população grega o odiava, e que na própria Macedônia, seu sucessor Cassandro executou sua mãe, sua mulher e o filho de Alexandre; tudo sem provocar a menor reação, comoção ou indignação da parte dos gregos. O desprezo que os gregos experimentavam por Alexandre foi citado por Teofrasto (filósofo), Eratóstenes (cientista), Timeu (histórico). Mas evidentemente não faltavam adoradores do soberano e "dono do universo", homens e mulheres que alimentam seu mito, reverenciando-o em Alexandria diante de sua estátua, ou prostrados à frente de seu sarcófago em mármore ou diante de seu féretro em cristal. A ascensão de um líder, jamais é coroada apenas por elogios de seus feitos e narrativas favoráveis de seus seguidores. Na dura vida de um conquistador, o que não faltam são inimigos e outros sedentos de poder, detratores de seus grandes feitos por terem sido obrigados a permanecer à margem dos acontecimentos. O que usualmente, à boca pequena, chamam de invejosos.

Depois da morte do Conquistador, três foram as fontes históricas de maior relevo ideadas e publicadas em Alexandria, cujos escritos foram funadmentais para entender não só o conquistador de terras, mas também a figura humana por trás do condottiero:

a) A "História das Campanhas de Alexandre", em 12 volumes escritos pelo filósofo Clitarco entre 320 e 300 a.C.;

b) As "Memórias" de Ptolomeu Soter, rei do Egito, que são a  fonte principal  da "Anabasi" (ou Subida - em direção à Ásia Superior) de Lúcio Flávio Arriano Xenofonte de Nicomedia (ca. 150 a.C.)

c) e o "Romance de Alexandre", erronemanete atribuído a Calistene de Olinto, historiógrafo da expedição da Ásia, condenado à morte em 327 a.C.

Nas três obras, consideradas as principais fontes da vida do macedônio, se basearam os históricos posteriores àquele período, responsáveis pela esmagadora maioria das informações que chegam até nós a respeito de suas breves vida e campanha.

Na sua "Anabasi de Alexandre", inspirada na estrutura senofontiana do título e na divisão em 7 livros, Arriano narra os dramáticos episódios da expedição, os preparativos que antecederam as dramáticas batalhas e o seu derradeiro fim. O texto se baseia, além de suas efemérides (diários de corte), nas obras de Ptolomeu I (367-283 a.C.) e naquela de Aristóbulo (374-290 a.C. ca.), os dois companheiros do rei em suas empresas.

Decididamente mais romântica - inspirada na obra do grego Clitarco (III sec. a.C.) "L’Historiae Alexandri Magni Macedoniae" - é a biografia escrita em 10 livros, sendo os dois primeiros perdidos, de Q. Curzio Rufo, que usou de tons não sempre favoráveis ao tratar especificamente do conquistador. Nos escritos também surgem com frequência as descrições das coisas estranhas e misteriosas encontradas por Alexandre em sua expedição.

Outras obras fragmentárias permitiram que fossem adicionadas noticias àquelas precedentes. É necessário também lembrar os narradores citados por Polibio (II século a.C.), pelo geógrafo Estrabone e pelo orador Luciano di Samosata (II sec. d.C.). Foram também encontrados diversos fragmentos do comandante da frota macedônica Nearco de Onesicrito, de Eratóstenes e das obras de Arriano, e mais outras tantas. Enfim, se se quer seguir os feitos do homem (não do deus declarado), deve-se levar em consideração os escritos da Vulgata (5 textos) que permitem entrever as fontes da obra de Clitarco, já citada anteriormente.

Os objetivos primários de Alexandre sob um ponto de vista hegemônico eram dois:

a) livrar os gregos da Ásia do domínio persa;
b) vingar a Macedônia e a Grécia das atrocidades sofridas entre 490 e 480 a.C. 

Na verdade o verdadeiro objetivo era aquele de conseguir anexar a Ásia à Grécia, conquistando o império do Grande Rei. 
Aristóteles, conselheiro de Filipe II e educador de Alexandre, declara na sua "Política": "A conquista de novas terras representa a função primordial da monarquia macedônica".

E foi o próprio Filipe II e não Alexandre a oferecer os ricos países do Oriente Médio às ambições dos gregos. Filipe deixou uma Macedônia bem organizada política e militarmente. Em 23 anos de reinado, transformou um conjunto de tribos em um estado eficiente e diplomaticamente bem preparado, o que se constituiu na sólida base das conquistas do jovem Alexandre. O exército, muito bem preparado, era nacionalista e combatia pela glória e expansão da Macedônia. Tanto é que o primeiro ato do jovem Alexandre, desembarcando em Kumkale na Ásia menor, foi justamente aquele de clamar por esse conjunto de fatores que exaltavam o ideal grego, cravando sua lança no chão, declarando-a "terra de conquista".

Glossário: Nike


*Niké de Samotrácia (Νίκη em grego – deusa da vitória): A imponente estátua esculpida em mármore de Paro foi encontrada na Samotrácia, uma ilha no Mar Egeu, em 1863, sem braços e cabeça (uma das mãos só foi encontrada em 1950). A estátua representa a deusa alada, jovem filha de Zeus, que traz o anúncio de vitórias militares, enquanto posa na proa de um navio de guerra. Um fragmento de inscrição sob a base revelou que o monumento foi dedicado aos habitantes de Rodes. A estátua de 2,45m encontra-se hoje no Museu do Louvre. À esquerda, a privilegiada posição dada à estátua da deusa no Louvre, mostrando o fascínio que essa cultura ainda desperta nas pessoas nos dias atuais. À direita, um detalhe ampliado. Clique na foto para ampliar.

Nessa foto vê-se, nitidamente, o detalhe da proa de uma embarcação, onde Nike posava anunciando as vitórias em batalhas.

Reis da Macedônia - Demetrios I Poliorketes (306-283 a.C). Tetradracma de prata (28mm, 17.24 g). Casa da Moeda de Pella. Cunhada entre 294-293 a.C.. Nike de pé na proa da embarcação / Poseidon Pelagaios de pé, prepara golpe com tridente, monograma à esquerda; golfinho acima da estrela, à direita.


O FILHO DOS "DEUSES"

Mas como o macedônico foi visto pelos persas, poucos séculos depois de sua morte? 

Reportamos uma transcrição do período fulgido sassânida (introdução ao Arta Viraf Namak): 

"O maldito Arimano, o danado, para fazer perder aos homens a Fé e o respeito pela lei, convenceu o maldito Iscandro, o Grego, a vir ao Iran para trazer a opressão, a guerra e a devastação. Chegou e tirou a vida dos governadores das províncias iranianas. Saqueou e abateu a Porta dos Reis, a capital. A lei, escrita com letras de ouro em pele de boi, se conservava na fortaleza dos escritos a capital. Mas o cruel arimano suscitou o malvado Iscandro e este queimou os livros da Lei. Fez perir os sábios, os homens de lei e os sabedores  do país de Iran. Disseminou o ódio e a discórdia entre os potentes, até que ele memo, infranto, não se precipitou no inferno".

Figura: Detalhe do grande painel (5,82 mx 3,13 m) do mosaico retratando a Batalha de Issos (333 aC) entre Alexandre o Grande e o Grande Rei da Pérsia Dario III, descoberto em 1831 durante as escavações de Pompéia na Casa do Fauno. Trata-se, ainda hoje, de um dos mais famosos mosaicos romanos. Retrata Alexandre, que, a partir da esquerda, lidera o ataque de seu exército contra Dario, com o persa já se pondo em fuga, com os olhos voltados para Alexander. Independentemente da descoberta na Casa do Fauno, o mosaico de Alexandre foi realizado no século III a.C. de acordo com um modelo perdido. O original pode ter sido obra de Philoxenus de Eretria (século IV a.C.); No entanto, há uma outra hipótese de que teria sido inspirado em um afresco helenístico. No mosaico é prova de toda a magnificência das pinturas monumentais e a técnica da quadricomia (quatro cores: cíano, magenta, amarelo e preto) dos antigos gregos. A seguir, imagem do mosaico pertencente ao acervo do Museu Arqueológico de Nápoles, Itália.


A genialidade do herói nasce, para quem o considera descendente de comuns mortais, de duas opostas tendências hereditárias:

1. Aquela do pai que representa o perfeito tipo di fundador do Império. Clareza de pensamento, amplitude de observação, precisão de cálculo, reflexão e previdência, rapidez de decisões, desprezo de escrúpulo, ductibilidade insinuante, energia brutal. Mas Filipe é assassinado em 336 a.C. Em linha paterna, Alexandre descende de Hércules. A dinastia, que continua com ele, tem sua origem no ramo heróico mais nobre de Argo; não na do Peloponeso, mas na de Orestides, nos confins do Epiro e da Iliria; esta cidade, colônia do filho de Agamenon Orestes, foi "anexada" pela famosa capital de Agamenon, e que obteve o direito de participar aos grandes jogos de Olímpia, em quanto, mesmo que impropriamente, fizesse parte da comunidade grega;

2. O da mãe Olímpia, princeaa do Epiro, mulher ardente, exuberante, desenfreada, que seguia a religião dionisíaca, cujo culto residia no o êxtase que se obtinha sobretudo através da música e a dança. Dava-se lugar a uma embriaguez, uma felicidade que derivava da sabedoria de uma nova vida e portanto os eleitos participavam à imortalidade.  O frenesi de Olímpia era inigualável. Desde jovem esta orgulhosa descendente de Aquiles; frequentou a "Feliz Pieria", onde os reis da dinastia Argeadiana tinham estabelecido como sede de suas festas olímpicas. E foi sem dúvida ali, aos pés do monte Olimpo, que ela abandonou o nome de Polixena para usar o de Olímpia, em honra da sagrada montanha, onde as mulheres "inspiradas" se abandonavam ao delírio divino. Exagerava nos rituais do fanatismo sagrado, levando consigo serpentes domesticadas que, ao som dos instrumentos, deslizavam fora dos cestos e se enrolavam em volta das coroas das Menades e, "mediante a horrenda amalgamação da receptação ofidica com a orquestra do bacanal", assustavam o circulo dos presentes.

Figura: Reis da Macedônia. Filipe II (359-336 aC). Estupendo Stater de ouro (8,56 g), com maginífica pátina e excepcional estado de conservação. Casa da Moeda de Kolophon (Sicilia e Magna Grecia). Batida sob o reinado de Filipe III, por volta de 323-319 aC. A/Busto laureado de Apollo, voltado à direita com as características de Alexandre, o Grande. R/Biga com condutor, em posição de combate, com lança na mão direita. Tripé, embaixo, à direita. Thompson, “Posthumous Philip II Staters of Asia Minor”. Acervo particular, coleção Bentes. Foto ampliada.

A noite do nascimento de Alexandre, Olímpia sonha com um relâmpago, seguido por um trovão, que a atinge no seio. Virgem, concebe imaterialmente, ao passar desta luz fulgurante, um filho do qual fisicamente, depois das núpcias, Filipe vira pai. 

Também em linha materna Alexandre tem a mesma origem; ela é filha de Neoptolemo, rei dos Molosseus, descendente de Aquiles. Estas descendências eram na época extremamente importantes: eram artigos de fé, influenciavam a vida politica, eram invocadas nas pretensões de hegemonia, nos conselhos de guerra, etc. 
Portanto, desde seu nascimento Alexandre era um "homem-deus". A união de uma dupla decendência de heróis leva ao apogeu as qualidades tão diferentes, herdadas de seus pais.

Figura: Reis da Macedônia - Alexandre III, o Grande (336-323 a.C.). Stater de ouro (8,64 gr). Casa da Moeda de Byblos. A/CabeÇa de Atena, com elmo, voltada à direita. R/ALEXANDROU, Nike de pèe, voltada éa esquerda, monogram AP. Acervo particular, coleção Bentes. Foto ampliada.


Casas da Moeda

Para uma correta correspondência das moedas de Alexandre às numerosas Casas de Moeda que as cunharam, é necessário consultar obras especializadas como o Müller ou o Price. A puro título de exemplo, colocamos aqui algumas ilustrações das tipologias existentes. A imagem de Zeus, estampada no reverso, é colocada aqui apenas como referência, não servindo como fator de determinação, já que estas imagens variam de acordo com a Casa da Moeda e as datas em que as peças foram batidas. As marcas foram super-dimensionadas para favorecer a consulta, não estabelecendo nenhuma proporção com as dimensões da moeda estampada como exemplo. 
Exemplo



Fim da primeira parte