Gens Giulia - Parte I

A Gens era uma instituição romana. O conjunto de famílias que se encontravam ligadas politicamente a uma autoridade em comum, o Pater Gentis. Usavam um nome em comum por se julgar descendentes de um antepassado comum. A gens tinha seu equivalente na Grécia com o nome genos, que se formava a partir de uma grande família consangüínea com um antepassado em comum. A gens ou genos é a unidade. Várias gens constituem uma fratria e várias fratrias uma tribo.

A Gens Giulia (Julia) é uma das mais antigas famílias de patrícios romanos (cidadãos da República que constituíam a aristocracia e nobreza de Roma).

Segundo a tradição, teria origem em Tróia, descendendo de Iulo (Ascânio), filho de Enéias e fundador da cidade de Alba Longa sobre as colinas albanas (Castel Gandolfo, "comuna" italiana da região do Lácio, província de Roma).

Foi uma das "gentes" que Tullo Ostilio acolheu em Roma depois da destrução de Alba Longa. A Gens Julia, devido à sua remota antiguidade deveria ser incluída entre as gentes originárias de Roma, citadas pelo historiador Tito Lívio, uma falta que certamente deve ter pesado muito a Caio Júlio César que muito insistiu sobre a influente origem de sua Gens.

Figura: Gaio Giulio Cesare (Caio Júlio César) - Denário de prata cunhado entre 49 e 48 a.C.(diâmetro:17 mm, peso:4,01 gr.) / Anv: CAESAR, elefante (símbolo de César) avança à direita e pisa em uma serpente / Rev: Simpulum (concha), aspergillum (aspersório usado por sacerdotes para ungir a população), securis (machado) e um apex (tiara).
Nota: Alba Longa - É uma cidade lendária que teria sido fundada por Ascânio, o filho de Eneias. Existem várias versões sobre as origens da cidade.
De acordo com Diodoro Sículo, Eneias teve dois filhos, Ascânio, filho de uma mulher troiana, e Sílvio, filho de Lavínia, filha de Latino. Enéias se tornou rei dos latinos três anos após o final da Guerra de Tróia, reinou por três anos, e desapareceu do mundo dos mortais, recebendo honras como um imortal. Ascânio foi seu sucessor, e fundou Alba Longa nas margens do rio Alba, e que mais tarde passou a ser chamado de Rio Tibre. Após a morte de Enéias, Ascânio tentou matar Sílvio quando ainda era uma criança, abandonando-o na montanha; salvo de um cruel destino ao ter sido encontrado por pastores. Após a morte de Ascânio, rei de Alba Longa, Iulo (filho de Ascânio), e Sílvio, disputaram o trono. A população decidiu, por voto, que Sílvio seria o rei, com Iulo exercendo funções sacerdotais como "Pontifex maximus", equivalente a um segundo rei. De acordo com Floro, Iulo era filho de Enéias, sendo o ancestral dos reis de Alba Longa.


ÁRVORE GENEALÓGICA - DINASTIA GIULIO CLAUDIA

Os "júlios" já existiam em Boville, cidade italiana da província de Frosinone, como resulta da inscrição de um altar de um antigo teatro da cidade, citando as oferendas e sacrifícios das "gentes", em concordância com as leis e rituais albanos. A conexão dos "Júlios" à Boville é ligada inclusive ao sacrário (capela) que o imperador Tibério dedicou à Gens Júlia naquela cidade, onde foi erguida estátua em homenagem a Augusto.

Enéias era filho de Vênus e de Anchises; Iulio era filho de Enéias e de sua mulher troiana Creusa, enquanto Ascânio seria filho de Enéias e de Lavínia, filha do rei Latino.

Imagem á esquerda: Enéias escapa de Tróia em chamas. André Van Loo (1729) Museu do Louvre.



Figura acima: Árvore genealógica dinastia Giulio Claudia. Legenda: (1) Primeiro cônjuge. (2) Segundo cônjuge. (3) Terceiro cônjuge. A linha pontilhada indica: a) Adoção quando estiver na vertical e b) Casamento, quando for lateral. Clique na imagem para ampliar.


Diversos membros desta gens obtiveram as mais altas dignidades e honrarias do estado nos primeiros períodos da República Romana. O primeiro a obter o cargo de cônsul foi Gaio Giulio Iullu em 489 a.C.. A Gens Júlia foi certamente uma das famílias mais ilustres da República; seus membros ocuparam os mais altos cargos da magistratura, o consulado por bem 29 vezes, até a chegada dos Césares. A Gens Júlia ficou notoriamente conhecida graças ao seu expoente maior Gaio Giulio Cesare (Caio Júlio César), ditador e tio (além de pai adotivo) do imperador Augusto. A partir de então, o nome vem transferido, dando lugar à dinastia Giulio-Claudia do I século d.C..

A Gens Julia deu seu nome à própria Via Giulia Augusta, construída por Augusto em 13 a.C.; partindo de Piacenza, passando por Torton e Vado Ligure, percorria toda riviera ligure em direção à Gallia, atingindo Arles (Arelate), onde encontrava a Via Domizia. Em Roma, o pórtico Saepta Iulia tomava o nome dessa Gens.

Os primeiros cinco imperadores romanos que governaram de 27 a.C. a 68 d.C., quando o último da linhagem (Nero) suicidou-se com a ajuda de um escravo libertado. A dinastia vem assim chamada do "nomen" (nome de família) dos 2 primeiros imperadores: Caio Julio César Otaviano (o imperador Augusto), adotado por Julio César e, portanto, da família Julia, e Tibério Claudio Nero (o imperador Tibério, filho de primeiras núpcias de lívia, mulher do imperador Augusto), que pertencia, por nascimento, à família Claudia (Gens Claudia).
Augusto (27 a.C. - 14 d.C.)
Tibério  (14 d.C. - 37 d.C.)







Calígula (37 d.C. - 41 d.C.)

Cláudio (41 d.C. - 54 d.C.)

Nero (54 dc. - 68 d.C.).