A Bandeira Olímpica e a filosofia do colecionismo

A numismática faz uso de diversas áreas do conhecimento para estudo do seu objeto principal, a moeda. Buscando identificá-la e situá-la num contexto histórico, o numismata puro, o numismatógrafo por excelência, abraça a ciência inspirado e induzido pela filosofia do colecionismo ou seja, a análise da forma, do metal, da aplicação, do seu inserimento na economia e, principalmente, buscando identificar as indeléveis marcas que a distinguem de outras e o processo gráfico e artístico dos artesãos que a elaboraram. Para o numismata puro, aspectos como o valor de um exemplar, preciosidade, raridade, apesar de relevantes, são secundários em seu estudo e na formação do acervo que pretende montar. Da análise fenomenológica do ato de colecionar e dos propósitos dos colecionadores, podemos compreender a relação de seus sentidos com os ciclos de vida dos povos, observando alguns quadros teóricos explicativos do hábito de colecionar, que convergem para a busca do sentido de permanência dos objetos e do ambiente, em relação ao desenvolvimento e compreensão humanos dos ciclos vitais, totais ou processuais.
Dentro de um registro empírico de análise desses sentidos, destacam-se as lógicas de continuidade e descontinuidade que nos permitem esboçar a intrínseca e complexa relação entre coleções e ciclos de vida, baseado no desenvolvimento de uma percepção sensível do mundo decorrente e de sua influência nas trajetórias pessoais dos colecionadores.


A filosofia do colecionismo

“...Pequenos fragmentos do passado que narram a história de reis e seus grandes feitos, do quotidiano da gente comum e do seu farfalhar de vozes no mercado, nos ajudando a compreender o mundo em que vivemos [...] por onde andou? quais guerras financiou e que terras ajudou a conquistar? Creiam-me! Este disco de metal carrega uma história que nenhum livro pode nos contar... 
Anônimo - Trecho de um texto escrito no século XVIII

O hábito de colecionar coisas é tão antigo quanto a consciência humana. Para ganhar um sentido de permanência, os homens começaram a exteriorizar a sua existência em objetos, em ambientes, ou a relacioná-la a fenômenos e sentimentos regularmente produtores de um bem-estar físico e espiritual.
Frente à visão da realidade do dia-a-dia, da degenerescência, da fadiga, diante da monotonia dos afazeres mundanos e cotidianos e no combate à desilusão, o homem buscou a exuberância, descobrindo na arte e em suas variáveis, o sentido do estético e do belo, por assim dizer. Nesse processo, os homens passaram a discriminar, ordenar e classificar os objetos, buscando um sentido de permanência, prazer e deleite, dando à posteridade, a primeira noção do que venha a ser colecionar.

O que alguns colecionadores –  não o numismata puro definido por Prober – talvez ainda não tenham compreendido é que o mágico é propriedade da observação, do olhar, e não do objeto que não pode reengendrar a magia que o inventou. É a sua subordinação à prática que define seu momento mágico.

Piaget nos ensina que a duplicidade característica da imagem, assim como dos objetos colecionados, circunscreve uma dada formação sensível do pensamento, uma capacidade de imaginar coisas distintas dos objetos existentes, como também uma necessidade de visualização, determinada pela presença de "coisas", pela apreensão de suas propriedades ou pela ausência de sua manifestação, um sentido primário de discriminação, como exercício da inteligência humana.

Com o tempo, a moeda se tornou um documento histórico, utilizada como “fonte” de dados para pesquisas, nos fornecendo relevantes informações sobre o povo que a cunhou, sua forma de governo, língua, religião, economia, e até mesmo o seu grau de sofisticação e desenvolvimento intelectivo fazendo com que a numismática tenha um papel cada vez maior no estudo da história das civilizações.

A preocupação principal da numismática é a moeda, enquanto peça cunhada. Cabe ao numismata analisá-la por diferentes métodos, buscando no objeto diferentes informações. Durante esse processo, o numismata fará uso de conhecimentos adquiridos através de outras disciplinas como a história, a cronologia, a metrologia, a simbologia, a epigrafia, a heráldica, a iconografia, a geografia, a economia, noções dos processos de metalurgia e da evolução nas artes, entre outros campos que podem ser abordados. Examinando os principais tipos de coleções a que os numismatas podem se dedicar, seguindo os eventos da nossa mais que milenar história, seria útil dirigir a nossa atenção à necessidade que o colecionador tem de impor a si próprio limites bem precisos, fronteiras, confins insuperáveis para a própria matéria, a fim de que possa formar um belo acervo, num contexto lógico, histórico e geográfico. 

Seja pela enorme quantidade de material oferecido, seja porque tudo o que se ganha em quantidade se perde em profundidade, se o colecionador pretende tomar para si a condição de numismata, ao invés de ''ajuntador de moedas'', deve entender que é praticamente impossível colecionar moedas sem escolher um tema preciso ou um período a ser tratado, e isso independe de valor dos exemplares, antiguidade, metal em que foram as moedas cunhadas, contexto histórico, quantidade de peças cunhadas, etc.

É indispensável não somente definir em modo preciso os limites do período e da região que ter-se-á em consideração, mas também tentar entrar no contexto do sujeito examinando-o sob todos os aspectos que o circundam: histórico, geográfico, político, social, econômico e artístico. Enfim, tudo que possa servir a melhor compreender as características que inevitavelmente se refletem na vida cotidiana, na produção monetária. É evidente que se o material ilustrado nos livros e publicações pode ser examinado ao vivo, a experiência será muito mais prática e de imediato entendimento.

De fato, somente manuseando materialmente as moedas podemos perceber o seu estilo, seus peculiares dotes, seu estado de conservação, e as caracteristicas referidas à especialidade previamente escolhida.

Ingressando assim no clima numismático que caracteriza o objeto da coleção, para conseguir efetivamente os exemplares que servirão a compor um belo acervo, é necessário adquirir a ''personalidade numismática'', aquela que irá guiá-lo na escolha e na valorização das moedas que irão enriquecer o seu acervo.

Inicialmente, é de extrema importância a informação segura, o que, no caso da numismática, só se obtém com muito estudo, muita leitura e dedicação. Dessa forma, o colecionador deverá montar uma boa coleção de literatura numismática, principalmente aquela relativa ao período ou objeto escolhido como tema, e se dedicar com afinco à leitura dos textos nela contidos a fim de se aprimorar. Não é somente frequentando feiras, eventos ou leilões que se aprende a numismática. Apesar de serem atividades prazerosas, é debruçado sobre os livros - não somente os que tratam a numismática, mas também os que podem elucidar o envolvimento do objeto com uma época, o que se pode encontrar na detida leitura da história dos povos -, pequisando, lendo e estudando que o colecionador sai do mundo dos ajuntadores para ingressar no seleto clube dos numismatas. Apesar de alguns tentarem tapar o sol com a peneira, é fato que a numismática além de ciência, é também cultura e arte. Não é matéria para ser tratada e discutida onde grassa a ignorância. Não é possível aprender o significado da numismática senão nos livros dedicados ao tema e à história da humanidade, e no meio em que ela é praticada, sendo parte integrante do cotidiano dos envolvidos.


A moeda é o objeto

As moedas documentam relevantes aspectos da sua concepção e utilização, registrando de forma invulgar as informações históricas de uma era. Sua cunhagem correspondeu, desde a Antiguidade, a um ato político, imediatamente relacionado com autoridade e direito de soberania. A sucessão de gerações históricas nos legou marcas indeléveis do seu quotidiano, um patrimônio inestimável que oferece um quadro informativo abrangente das ações, reações, sensibilidades e capacidades, reflexos dos poderes instituídos, espelhos das artes imaginadas e economias praticadas e, como tal, inequivocáveis definidores de culturas.
Entre a multiplicidade de testemunhos identificados contam-se as moedas, quer consideradas individualmente, quer como agentes coletivos com funções bem definidas na vivência e convivência, internas e externas, da sociedade. A possibilitar um acervo informativo específico, amplo e tão relevante, complementando outras documentações disponíveis, surge a Numismática, seja como colecionismo culto, seja sob seu aspecto histórico-científico, ambos interligados pelo mesmo sujeito.
A numismática nos ajuda a compreender o mundo em que vivemos, relatando com o auxílio da geografia, da mitologia, da arqueologia, paleografia e heráldica, a história de uma civilização, de uma nação ou de uma era. São documentos históricos e/ou artísticos, as variações das ligas metálicas, a difusão territorial, a introdução de novos valores monetários e as inscrições gravadas por soberanos.


Colecionismo culto

Colecionar, do latim collectio, possui em seu núcleo semântico a raiz leg, de alta relevância em todas as línguas indo-européias. Essa raiz está entre as poucas que conhecemos há mais de 4 mil anos, como expressão de sentidos e sistemas ordenadores. No grego clássico, produz o morfema log, avizinhado ao latino leg, ambos repletos de derivados. Nesta família lingüística, aparece o núcleo semântico e significativo do colecionismo: uma relação entre pôr em ordem – raciocinar – (logeín) e discursar (legeín), onde o sentido de falar é derivado daquele de coletar. Isso depende de gosto, filosofia, interesse, de foro íntimo, não relacionado à vulgaridade segregacionista praticada por alguns grupos que se pretendem numismatas como se tal os distinguisse de outros, apenas pelo valor, antiguidade, metal e quantidade cunhada do objeto que possuem.

Em alguns sites de relacionamento social, como o Facebook, temos constatado a preocupação de alguns colecionadores em estabelecer, dentro da numismática, um elitismo desproporcionado e sem sentido, criando fronteiras que nos parecem uma tendência em dividir o que é moeda de coleção de outras que tratam com desproporcionado demérito.
Num recente debate sobre os preços praticados no mercado, em relação à moeda 778 do Catálogo Bentes, página 731 da 4ª edição, comemorativa da Entrega da Bandeira Olímpica (imagem a seguir).


Valorizando aspectos irrelevantes tais como a modernidade, e falaciosamente atribuindo raridade e/ou preciosidade ao que é antigo, comparam, desmerecida e desproposidatamente, essa cunhagem da Casa da Moeda - resultado do trabalho de hábeis artistas e gravadores e que representa uma história contada desde a antiga Grécia - com outras moedas que acreditam "valer mais", reduzindo a numismática ao ordinário, à réles competição de vizinhos que disputam "superioridade fálica" ao passar diante da casa do outro com o automóvel zero que acabaram de comprar.


Quanta História

Na Antiguidade, os Jogos Olímpicos eram um festival religioso e atlético da Grécia Antiga, que se realizava de quatro em quatro anos no santuário de Olímpia, em honra de Zeus. A data tradicional atribuída à primeira edição dos Jogos Olímpicos é 776 a.C.. Eram os mais importantes Jogos Pan-Helênicos, proibidos pelo imperador cristão Teodósio I, em 393, que os considerava manifestações do paganismo.

O período áureo dos Jogos Olímpicos antigos correspondeu ao século V a.C.. As perturbações que a Guerra do Peloponeso geraram na Grécia, teriam inevitavelmente consequência sobre os jogos. Élide, que até então tinha mantido uma atitude politicamente neutra, aliou-se a Atenas durante este conflito e baniu os Espartanos do evento. Em 424 a.C., sob a ameaça de invasão de Esparta, os jogos foram realizados sob proteção de tropas. Embora Esparta não tivesse chegado a invadir o santuário, este episódio revela que o conceito da “trégua sagrada” tinha sido esquecido.

Em 365 a.C. a Arcádia, ajudada por Pisa (inimiga de Élide), conquistou o santuário; as duas cidades organizaram os jogos de 364 a.C.. Élide tentou recuperar o santuário recorrendo à força; o conflito gerado levaria à pilhagem dos templos do Áltis. Élide acabaria por retomar o controle do santuário porque se temia a fúria dos deuses, ocasião em que as Olimpíadas de 364 a.C. foram invalidadas.

Em 336 a.C., depois das cidades gregas terem sido conquistadas por Filipe II da Macedônia e por seu filho Alexandre Magno, foi construído no Altis o Filipéion, um edifício onde se encontravam estátuas de Alexandre e da sua família elaboradas finamente, em ouro e marfim, materiais que até então tinham sido reservados às estátuas dos deuses.

Em 146 a.C. a Grécia foi conquistada pelos romanos. Para financiar a sua guerra contra Mitrídates VI, o general romano Sula saqueou o Áltis (bem como os santuários de Delfos e Epidauro). Em 80 a.C., como forma de celebrar o sucesso da sua guerra, Sula transferiu os jogos para Roma, mas depois da sua morte em 78 a.C. regressaram a Olímpia. Durante um breve período da era romana os jogos retomaram a sua vitalidade.

Não poderiam participar nos jogos os estrangeiros (os “bárbaros” segundo o conceito grego), os escravos e as mulheres. Conta-se o caso de uma mulher que, vestida com roupas masculinas, disfarçou-se de treinador para entrar no ginásio e ver seu filho lutar. O filho venceu a prova e a mãe, comemorando a vitória, deixou cair seu disfarce, descobriram que que se tratava de uma mulher.

Os atletas eram de uma forma geral oriundos das classes mais favorecidas e tinham sido iniciados no desporto desde tenra idade, filosofia qeu fazia parte do contexto da Paidéia. Não vinham apenas da Grécia continental, mas de todos os pontos do mundo grego que na Antiguidade incluía as colônias espalhadas pelas costas do Mediterrâneo, do Mar Negro e do Egeu. Os vencedores eram alvo da homenagem da sua cidade: poderiam receber alimentação gratuita, terem estátuas erguidas em sua honra e serem cantados, em versos e prosas, pelos poetas.

A organização dos jogos foi da responsabilidade da pólis de Élide. Em 668 a.C. Fídon de Argos conquistou Olímpia e entregou o controle do santuário à cidade de Pisa, que organizou os jogos até 558 a.C., ano em que Élide retomou o controle sobre Olímpia graças à intervenção de Esparta.

No ano em que se celebrariam os jogos, Élide enviava por toda a Grécia arautos que anunciavam a data concreta em que se desenrolariam os jogos e que convidavam os atletas e os espectadores a participar. Os arautos anunciavam também a trégua sagrada, que proibia a guerra durante o período dos jogos e que visava proteger os espectadores e atletas durante vinda, estadia e regresso.

O etíope Abebe Bikila ingressa triunfante no Estádio Olímpico, após percorrer descalço, sob o sol escaldante, os mais de 42 km da Maratona.

Os Jogos Olímpicos eram supervisionados por juízes, os helanócides (“juízes dos Helenos”). Eram oriundos do seio da nobreza de Élide, sendo escolhidos à sorte dez meses antes do início do festival; seu número variou ao longo dos tempos.
Os juízes eram responsáveis pelo envio dos arautos, sendo sua incumbência também garantir o bom estado dos edifícios do santuário, o policiamento e a segurança dso locais. Intervinham igualmente nas provas, sorteando os atletas, arbitrando as provas e proclamando os vencedores, os quais coroavam.



Os juízes realizavam um juramento através do qual se comprometiam a julgar de forma imparcial os concorrentes e a guardar sigilo sobre aspectos relacionados com um atleta. Também ordenavam a execução dos castigos aos atletas e treinadores que não tinham cumprido as regras; poderiam ser punidos com açoites em local público, algo que entre os Gregos era reservado apenas aos escravos. No caso de suborno, previam-se multas elevadas; o dinheiro era revertido para pagar a confecção de estátuas em bronze de Zeus, expostas no santuário. Os atletas e os treinadores chegavam a Élide com um mês de antecedência para treinarem sob supervisão dos juízes. Julga-se que durante este período os atletas que não eram considerados aptos ou que não cumpriam os critérios de participação, eram excluídos.



A Bandeira Olímpica

A bandeira olímpica foi criada por Pierre de Coubertin no ano de 1913. Ela foi apresentada pela primeira vez no Congresso Olímpico de 1914, realizado em Paris. É formada por cinco anéis de cores diferentes (azul, vermelho, preto, amarelo e verde) entrelaçados e localizados no centro da bandeira. Representa a universalidade do olimpísmo (espírito olímpico, ética no esporte, união dos povos através das competições esportivas). Possui fundo branco e os anéis representam os cinco continentes habitados no mundo. As seis cores, contando com o branco, aparecem em todas as bandeiras dos países em 1896 (Primeira Olimpíada da Era Moderna realizada em Atenas). 

A bandeira olímpica é hasteada na cerimônia de abertura das Olimpíadas. É conduzida, na posição horizontal, ao Estádio Olímpico por atletas e hasteada em um mastro. Enquanto a chama olímpica queima no estádio ela permanece hasteada. Na cerimônia de encerramento, a bandeira é recolhida e entregue ao prefeito da cidade sede das Olimpíadas para os jogos seguintes.

A Bandeira da Antuérpia - A primeira bandeira olímpica foi apresentada pelo COI durante os Jogos Olímpicos de Verão de 1920, em Antuérpia, Bélgica. Ao final dos Jogos, a bandeira não foi encontrada e uma nova precisou ser feita para os Jogos de 1924. A bandeira voltou para as mãos do COI numa cerimônia especial realizada em 2000 em Sydney. A Bandeira da Antuérpia está hoje exposta no Museu Olímpico de Lausanne, Suíça, com uma placa agradecendo a Prieste pela “doação”.


A Bandeira de Paris - Uma nova bandeira olímpica foi criada para os Jogos de 1924, em Paris, e passada para a próxima cidade sede dos Jogos Olímpicos de Verão ou de Inverno até os Jogos de Inverno de 1952, em Oslo, Noruega, quando uma bandeira em separado foi criada para os Jogos de Inverno. A Bandeira de Paris continuou a ser usada nos Jogos de Verão até os Jogos de Seul, em 1988.

Javier-Sotomayor surprende uma platéia atônita, ao desafiar a gravidade, com seu salto de 2,45m

A Bandeira de Oslo - Foi apresentada ao COI pelo prefeito da cidade norueguesa durante os Jogos de Inverno de 1952. Desde então, tem sido passada para a próxima cidade-sede dos Jogos de Inverno.

Bandeira de Seul - A Bandeira Olímpica atual foi apresentada ao COI durante os Jogos de Seul, em 1988. Desde então, ao final de cada edição, é passada ao prefeito da próxima cidade-estado.