As cédulas da 2ª familia do Real com chancela errada

Ultimamente temos visto na internet, o anúncio de uma cédula de 50 Reais GJ, da segunda família, com a assinatura "errada" do Presidente do Banco Central, como sendo um caso único (vide figura a seguir). Contudo convém esclarecer que esse, além de não ser o único caso, é perfeitamente normal e já aconteceu em outras ocasiões, com outras cédulas da segunda família. A explicação é simples, bastando para tanto conhecer os diversos métodos de produção e de impressão, em particular, o offset, e as regras de segurança da CMB que definem a logística de tratamento do papel-moeda.

Cédula de 50 Reais GJ, impressa pela CMB, em Outubro de 2016, com a assinatura de Alexandre Antonio Tombini, época em que já havia deixado o cargo de presidente do BC, tendo sido substituído por Ilan Goldfajn
Vejamos:

Na produção das cédulas da segunda família do Real, foi abandonado o tradicional método que vinha sendo utilizado na confecção das cédulas anteriores, com uma letra à esquerda (conjunto de 9.999 séries com 10 algarismos, sendo 4 indicativos da série e os 6 subsequentes dedicados ao número de cada cédula) e uma letra na extremidade direita, indicativa da estampa.
Já na segunda família, as cédulas são identificadas com um par de letras colocadas à esquerda de uma sequência numérica de 9 algarismos. Mesmo que Banco Central, por uma questão de segurança, se recuse a divulgar a lógica empregada na numeração das cédulas da segunda família, com algum esforço e atenção, é simples deduzir o que se segue:

O par de letras, à esquerda da sequência numérica indica, respectivamente, o ano e o mês de emissão.
Exemplo: As letras CG em uma cédula, indicam o terceiro ano de produção (C é a terceira letra do alfabeto) e G o mês em que foi produzida, nesse caso Julho (sétima letra, sétimo mês do ano).

Quando acontece, por exemplo, que a sequência seja interrompida, isso significa que num determinado mês, ou ano, não houve produção. Assim, por exemplo, se uma cédula foi produzida pela primeira vez em Fevereiro de 2011, irá receber o par AB como indicativo do primeiro ano (2011 = A) e B para o mês de Fevereiro (segundo mês do ano, correspondendo à segunda letra do alfabeto). 

Vamos pegar a cédula de 10 Reais como exemplo: Foi posta em circulação, pela primeira vez, em 2012. Dessa forma, a primeira letra (A) corresponde ao ano de 2012, e assim sucessivamente, B = 2013, C = 2014, e assim por diante.

Ministro da Fazenda: Guido Mantega (2ª chancela) / Presidente do Banco Central: Alexandre Antonio Tombini.
01) AA000000001 a AA050000000
02) AF000000001 a AF096400000
03) AH000000001 a AH112200000
04) BA000000001 a BA049200000
05) BB000000001 a BB008400000
06) BC000000001 a BC047400000
07) BD000000001 a BD098400000
08) BG000000001 a BG086400000
09) BH000000001 a BH162000000
10) CA000000001 a CA043800000
11) CB000000001 a CB042600000
12) CH000000001 a CH090000000
13) CJ000000001 a CJ089725000
Ministro da Fazenda: Joaquim Vieira Ferreira Levy / Presidente do Banco Central: Alexandre Antonio Tombini
14) CJ089725001 a CJ138965000
Ministro da Fazenda: Henrique de Campos Meirelles / Presidente do Banco Central: Ilan Goldfajn
15) CJ138965001 a CJ139200000
16) EH000000001 a EH080400000
17) EJ000000001 a EJ071400000
18) FC000000001 a FC061200000
19) FE000000001 a FE...

Todavia, o leitor pode notar que em 02, a letra F indica que o mês de produção foi o de Junho de 2012, não havendo fabricação nos meses de Fevereiro a Maio, inclusive. 
Em 15 e 16, da letra C, correspondente ao ano de 2014, pulamos para a letra E, o que indica o ano de 2016. O salto de C para E, excluindo portanto a letra D, indica que não houve produção em 2015.

Nota: O leitor pode se equivocar ao se deparar com uma cédula de R$ 2,00 Reais, colocada em circulação ao final de Julho de 2013, com um par de letras AA. 
A pergunta seria: Se a segunda letra indica o mês de produção, estas cédulas seriam de Janeiro; então por que consta no BC a data de 29 de Julho para sua emissão?
A resposta é simples: Algumas cédulas da segunda família, foram produzidas em meses anteriores ao da emissão. Por isso encontramos as letras AA para uma produção, e as sucessivas trazendo as letras AF e AG. Isso significa que as primeiras foram produzidas em Janeiro, que o segundo lote foi fabricado em Junho e o terceiro em Julho, mês em que foram efetivamente postas em circulação. Isso também ocorreu com as cédulas de R$ 10,00 Reais AA, postas em circulação a partir de 23 de Julho de 2012, seguidas pelo par AF (Junho), e com as cédulas de R$ 20,00 Reais AA, postas em circulação a partir de 23 de Julho de 2012, seguida pelos pares AD (Abril) e AE (Maio). Tudo se deve ao processo de impressão em offset. As folhas recebem, inicialmente, a numeração sequencial, em seguida, antes de serem impressas, recebem as chancelas.


CÉDULAS COM UMA OU DUAS MICROCHANCELAS ERRADAS

Esse “erro” ocorre em razão da Casa da Moeda não haver providenciado a tempo, as novas placas de estampa. Para a impressão das cédulas atuais, as folhas recebem, inicialmente, a numeração sequencial das cédulas e, sucessivamente, as microchancelas, sempre impressas em offset, ou seja: em diversas folhas do papel, onde as cédulas serão impressas já constam: somente a numeração sequencial ou a numeração mais as microchancelas, dependendo da ocasião em que entram em produção. Por esse motivo, em algumas ocasiões, nos deparamos com cédulas contendo uma ou duas microchancelas de autoridades que já haviam deixado o cargo, com um par de letras indicando época posterior à exoneração ou anterior à nomeação da autoridade. Estes "erros" (na verdade não são erros e sim detalhes, consequências do processo de impressão e de segurança que não podem ser mudados) são detectados em mais de uma cédula da segunda família, e se dividem, como já citado anteriormente, em dois casos:

1. O par de letras indica época POSTERIOR à exoneração da autoridade

1A. Cédulas de R$ 50,00 (BA e BB) com as microchancelas de Guido Mantega e Henrique de Campos Meirelles - Neste caso, a primeira letra (B) indica o ano de 2011 como sendo o de produção (a letra A indica o ano de 2010, quando as cédulas foram produzidas pela primeira vez) e a segunda letra o mês em que foram efetivamente produzidas (no caso acima, A é Janeiro e B, Fevereiro). Todavia, a partir de 1° de Janeiro de 2011, Henrique de Campos Meirelles não era mais o presidente do BC. Em seu lugar havia assumido Alexandre Antonio Tombini.

1B. Cédulas de R$ 100,00 (BB), com as microchancelas de Guido Mantega e Henrique de Campos Meirelles - A mesma explicação dada anteriormente. 

1C. Cédulas de R$ 50,00 (GJ), com as microchancelas de Henrique de Campos Meirelles e Alexandre Antonio Tombini - Neste caso, o par de letras indicam o mês de Outubro de 2016, época em que Alexandre Antônio Tombini não era mais o presidente do Banco Central (deixou o cargo em 9 de Junho de 2016). Quando essa cédula entrou em circulação, o presidente do BC já havia sido substituído por Ilan Goldfajn.

2. O par de letras indica época ANTERIOR à nomeação da autoridade

2A. Cédulas de R$ 10,00 (CJ) com as microchancelas de Joaquim Vieira Ferreira Levy e Alexandre Antônio Tombini - O par de letras indica o mês de Outubro de 2014 como produção. Contudo, Joaquim Vieira Ferreira Levy foi nomeado para o cargo Ministro da Fazenda, em Janeiro de 2015. 
Explicação: Nas folhas onde serão impressas as cédulas, são impressos, inicialmente, o par de letras e os números sequenciais. Ulteriormente, são impressas as microchancelas. Isso significa que, como ainda existiam folhas com o par CJ, mas sem as microchancelas, foram utilizadas para imprimir as cédulas com as atuais chancelas de Joaquim Vieira Ferreira Levy e Alexandre Antonio Tombini. O mesmo se deu com as cédulas de R$ 10,00 CJ contendo as microchancelas de Henrique de Campos Meirelles e Ilan Goldfajn.

2B. Cédulas de R$ 2,00 (CJ) com as microchancelas de Henrique de Campos Meirelles e Alexandre Antônio Tombini - Mesma explicação de 2A.

2C. Cédulas de R$ 5,00 (CD) com as microchancelas de Henrique de Campos Meirelles e Alexandre Antônio Tombini - Mesma explicação de 2A.

2D. Cédulas de R$ 20,00 (CD) com as microchancelas de Joaquim Vieira Ferreira Levy e Alexandre Antônio Tombini - Mesma explicação de 2A.

2E. Cédulas de R$ 50,00 (EJ) com as microchancelas de Joaquim Vieira Ferreira Levy e Alexandre Antônio Tombini - Mesma explicação de 2A.

2F. Cédulas de R$ 100,00 (EG) com as microchancelas de Joaquim Vieira Ferreira Levy e Alexandre Antônio Tombini - Mesma explicação de 2A.

2G. Cédulas de R$ 100,00 (FJ) com as microchancelas de Henrique de Campos Meirelles e Ilan Goldfajn - Mesma explicação de 2A.

Nota: Como consequência, temos cédulas de baixíssima tiragem e, por esse motivo, consideradas raras.

Aprendendo a interpretar a numeração das cédulas da segunda família do Real

Exemplo: 50 Reais GE027063001 a GE054720000, Henrique de Campos Meirelles / Alexandre Antonio Tombini com o distico “DEUS SEJA LOUVADO”.

O primeiro ano de produção, para essa cédula, foi o de 2010. Sendo assim, a letra A corresponde a esse ano (2010). Em seguida, temos B para 2011 e assim sucessivamente.

Letra G de GE: Corresponde ao ano de 2016. A falta de uma letra na sequência (por exemplo, saltando de E para G) significa que naquele ano (letra F) não houve produção.

Letra E de GE: Corresponde ao mês de Maio (quinta letra = quinto mês)

Quantidade: (54.720.000 - 27.063.001) + 1 = 27.657.000 cédulas impressas.

Nota: No cálculo da quantidade, fazer sempre o último número, menos o primeiro + 1. A explicação vem da aritmética dos inteiros.